Partes 22, 23 e 24

Parte 22 - O preço da Fama
Parte 23 - Sobre o Medo 
Parte 24 - Sobre sexualidade e modéstia

Parte 22 - O preço da Fama

SB: E quanto a celebridade? E quanto as coisas negativas associadas com a celebridade? Quais são as coisas negativas da celebridade? O que não gosta em ser tão famoso quanto você é?

MJ: Eu não gosto quando você se torna um ícone, sendo uma celebridade e depois de se tornar um ícone, um fenômeno internacional que foi o que aconteceu comigo - e eu não tenho vergonha de dizer isso - e a inveja que isso envolve. Eu tenho visto invejas sérias.

SB: Você sente isso entre outras celebridades, é palpável, ou você sente de alguma distância?

MJ: Eu tenho visto, mas uma vez que me conheçam cara a cara, eles sempre, sempre mudam. Eles vêem que eu não sou nada como aqueles caras. Eu tenho pessoas chorando, diante de mim, depois de me encontrarem. E há dois tipos de fãs. Há o tipo que diz: “Oh meu Deus, oh meu Deus!" e desmaiam e você tem que segurá-los.

E há o outro tipo de fã que diz de abrupto: "Oi" e eu respondo "Oi, prazer em conhecê-lo. Qual é o seu nome?" Eles dizem o nome, mas eles têm uma atitude. Eu fico simples e caloroso com eles e então eu os vejo começar a chorar. Eu pergunto: "Por que está chorando?" e eles respondem: "Por que eu não sabia que você era assim tão legal." E eles se vão diferentes. 

Eu penso: "Bom, como eles pensavam que eu fosse?”  E eles revelam que pensavam que eu era sério e arrogante. Eu digo: "Por favor, nunca julgue uma pessoa. Eu não sou nada disso." Eles ficam tão impressionados. E eu tenho certeza que eles saem dali me amando mais, milhares de vezes mais. Nada bate a gentileza e o amor, eu acho. Simples assim.

SB: Você sempre foi capaz de derreter o mais duro dos corações, com gentileza e amor?

MJ: Sim.

SB: E quanto a inveja de outras estrelas... Há muita inveja na sua profissão?

MJ: Absolutamente. Eles te admiram e sabem que você é uma pessoa grande e amorosa, mas são invejosas, pois querem estar no seu lugar. e "M" é uma delas. Madonna é uma delas. Ela é invejosa, É uma garota, uma mulher, e eu acho que isso a incomoda. Eu acho que mulheres não gritam por outras mulheres. Os homens são descolados demais para gritar por mulheres. Eu tenho os desmaios e a adulação, e ela não.

SB: A inveja não tem parte nisso? Você nunca teve inveja de alguém em sua carreira que te tenha feito trabalhar mais duro?

MJ: Nunca inveja. Admiração, completa admiração.

SB: Então admiração pode trazer metas melhores do que a inveja, pois é positiva e não negativa. Então você olha para Fred Astaire e diz: “Eu quero ser capaz de fazer isso."

MJ: Sim, absolutamente. Completa inspiração, nunca inveja. Isso é errado, mas as pessoas são como são, não são? É verdade? Pode alguém olhar para uma pessoa maior e sentir total inveja dela?

SB: Claro, mas você nunca sentiu isso?

MJ: Eu não entendo uma pessoa que faça isso.

SB: Para você sempre foi sobre inspiração? Você já se sentiu intimidado e maravilhado por aqueles que tinham um grande talento?

MJ: Pode alguém ter inveja de Deus?

SB: Claro. Olhe para Stalin e Hitler. Eles tentaram ser Deus. Eles queriam decidir vida e morte.

MJ: Uau!

SB: Por que eles perderam o senso de intimidação e maravilhamento. Deus não os impressiona. Ele os ameaça. Eles querem ser todo-poderosos, então não se submetem à autoridade de Deus. Inveja á parte, que outras coisas você não gosta em sua celebridade?

MJ: Ser famoso.

SB: Não gosta quando não pode caminhar pelas ruas?

MJ: Não, eu gosto quando as pessoas me reconhecem e são gentis e dizem "Oi" e quando há uma multidão ou coisa assim.

SB: Quando eu estava com você naquela van, e tínhamos deixado o hotel, Michael, duas vezes vimos um jovem negro de bicicleta nos seguindo, por mais ou menos 5 milhas pelos caminhos mais pérfidos de Nova York, só para pegar um autógrafo seu. 

E você pediu para parar o carro e deu o autógrafo. Vimos três outros garotos que, depois do jantar com o Presidente Clinton, nos perseguiu por mais ou menos uma milha à pé até você pedir para o motorista parar. E você deu o autógrafo ao rapaz. Então, você vê as pessoas fazendo isso?

MJ: Oh Deus, Shmuley, centenas deles, às vezes. É um trilhão de vezes pior do que você viu. Eles começam a quebrar as coisas e se transforma numa turba.

(Eu estava com Michael enquanto saíamos do Carnegie Hall depois da apresentação no Dia dos Namorados, 2001. E não posso responder pelo fato de que ele estava perto de ser rasgado de membro á membro. Shmuley)

SB: Você gosta quando as pessoas te reconhecem, contanto que sejam gentis?

MJ: Eu acho que nosso trabalho como celebridades, eu acho que qualquer um que tenha sido abençoado por Deus com algum tipo de talento - ser escultor, escritor, pintor, cantor, dançarino - é para trazer um algum senso de escapismo e alegria para massas de pessoas. Esse é o seu trabalho, trazer alegria.

SB: Mais alguma coisa que você odeie na celebridade? Obviamente, você odeia as estórias dos tablóides, também?

MJ: Eu os odeio. Eu odeio os cretinos que fazem esse tipo de coisa. Eu acho que é racismo, inveja e ódio apenas - maldade - são parte disso. Eles dão vazão à frustração deles sobre as pessoas que estão tentando fazer alguma coisa boa e isso é triste. 

Se alguém acredita nisso, eles são meio loucos. Quero dizer, eu gostaria que houvesse um jeito de nos livrarmos disso completamente, desse tipo de coisa.

Parte 23 - Sobre o Medo 

SB: Você vive com medos? Daquele tipo...pessoas vão atirar em você, metaforicamente falando. Isso te dá medo?

MJ: Não como artista. Eu sou como um leão. Nada pode me ferir. Ninguém pode me machucar sem minha permissão. Não deixaria isso me incomodar, embora eu tenha sido ferido e tenha sentido dor no passado, claro, eu tenho me poupado de muito disso.

SB: Então não vive em medo agora?

MJ: Não.

SB: Você acha que as crianças nos ensinam a ter medo? Por um lado, elas têm medo, elas têm medo de cães, têm medo do escuro e muitas outras coisas. Por outro lado, elas não têm medo do amor e nem do que precisam.

MJ: Nós ouvimos, observamos, aprendemos. Abrimos nossos corações e mentes, abrimos nossas almas. Sim, podemos aprender, mas você tem que perceber que...

SB: Adultos vivem com mais medos do que as crianças.

MJ: Absolutamente... Recaídas nervosas. E criam suas próprias circunstâncias, de muitas maneiras. Se preocupar com alguma coisa até o ponto de destruir sua saúde. Se há algo que elas querem muito, as crianças ficam repetindo e repetindo até conseguirem, porque não conhecem outro jeito de fazer isso.

Até que você cede, o que é muito doce e adorável. Eu sempre digo a eles: "Se essa é a coisa mais importante para você se preocupar na vida, então você é uma pessoa de sorte. Se esse é o seu maior problema, então você é sortudo." Você percebe no futuro... para eles isso é importante no momento, o que é adorável. Pode ser a coisa mais simples do mundo, também. Adorável.

SB: Então, o ponto era tentar fazer com que, por um lado, há coisas que te assustam [Michael me contou que tem medo de cachorros] e que são medos clássicos da infância. A propósito... seu medo é muito similar ao de Adão e Eva. Eles adoram o perigo, sabe. Deus disse à eles: "Há um fruto que é perigoso" e era esse que eles queriam comer. Por outro lado, você tem medo de cães perigosos.

MJ: É, eu não gosto desse tipo de coisa. Isso me assusta. Ou se eles encurralam um cougar entre os filhotes... Não sei se o nome é lobinho ou raposa... mas ela está encurralada e é muito territorial, você não se aproxima. Você não atravessa aquela linha. 

Eu não entendo quando pessoas pegam uma arma e atiram na mãe (no animal)... E os bebês elefantes, eles fazem a mesma dança, toda hora. Eles dão aquele grito e então dão voltas, confusos, enquanto a mãe deles está deitada lá, eles ficam dando voltas, como se fossem enlouquecer. E eu não entendo como o homem pode fazer isso. Isso me machuca muito. É muito mau.

SB: Você vai em safáris quando está na África?

MJ: Sim, sim.

SB: Você chega perto de alguns dos animais mais perigosos?

MJ: Sim.

SB: E não tem medo...?

MJ: Não. Não, eu amo safáris. Amo muito.

SB: Então você é a contradição desse medo. Você tem medo de coisas como aranhas, coisas que crianças teriam medo, mas você não tem medo de um leão.

MJ: Não, não. Eu sou fascinado por isso.

SB: Quero dizer, em Neverland, eu vi você chegar com uma cobra. Se lembra disso?

MJ: Sim, sim. E com as cascavéis. Nós acariciamos as cascavéis são muito, muito... quero dizer, elas podem te matar.

SB: E você não tem medo de nada desse tipo?

MJ: Eu sou fascinado por coisas que são perigosas para os homens e só de olhar um tubarão... Porque somos tão fascinados por tubarões? Por que podem te matar. E você grita " Tubarão!" e todo mundo pergunta: "Onde? O quê? Quem?"

Sabe, quando você diz 'barracuda' ninguém dá a mínima, você diz 'camarão' e nada. É o medo, a lenda e o folclore atrás disso. E adoro tudo isso... Eu acho que eu gosto do mesmo que PT Barnum gostava nisso. Sabe, coisas que despertam o interesse das pessoas, eu adoro esse tipo de... É isso que eu amo na mágica, e Howar Hughes. E amo tudo isso.

SB: Quais são os seus maiores medos, então? Eu sei que tem medo de pessoas más. Você não gosta de gente má.

MJ: Eu não gosto caras grandes, altos e maus, do tipo agressivo. E é isso que me deixa meio para baixo sobre, você sabe quem... (o pai dele) Isso me machuca quando me pergunta, eu não gostei nada disso. Como pode um ser humano ter aquilo nele e ser tão ríspido? Se é assim que ele se sente, que guarde para ele, não diga.

SB: Você não gosta de caras altos e agressivos...?

MJ: Não. Em minha vida, eles foram muito maus. Embora tenha havido alguns gigantes gentis. Os grandões não foram legais.

SB: Mas seus guarda-costas são altos...

MJ: Eles são altos...

SB: Mas eles são tão legais...

MJ: Eu tenho que ter a certeza de que são legais. Eles têm que ser cavalheiros. E todos eles sabem, se uma criança se aproxima, que não a afaste. Se uma criança se aproxima para pedir autógrafos, você estende o tapete vermelho em cortesia para ela. Todos eles sabem disso. É muito importante. Quero dizer, Brando não assina autógrafos para ninguém, a menos que sejam crianças. A menos que sejam os pequeninos, ele não assina. Eu acho isso muito legal, sabe?

SB: Que outros medos você tem?

MJ: Que outros medos? hum...

SB: Cães. Não entendo por que certas crianças têm certos medos. Outra noite eu pus um DVD para as crianças e havia um monstro, e Baba ( a mais novinha) começou a gritar e chorar, e correu para o quarto, e ela sempre atrasa sua hora de ir para a cama, mas nesse dia ela disse: "Eu quero ir para a cama." E foi dormir. Ela odiou.

MJ: Que filme era?

SB: Eu acho que era Men In Black ou algo assim.

MJ: Ohhh, em DVD? Mas as outras crianças gostaram? Elas sabiam que era coisa de filme, que não era real?

SB: Sim. Eu realmente não as deixo ver coisas assim, mas elas as conseguem e esse eu assisti com elas, então... Baba viu o primeiro cara e...

MJ: É, não é para Baba. Não era para ela. Prince e Paris adoram Jurassic Park, embora haja violência e armas. Mas eu quero que eles vejam bons filmes, se eles são bons mesmo. Não muitos, mas os bons. A boa arte.

Parte 24 - Sobre sexualidade e modéstia

SB: Na tentativa de preservar as qualidades infantis em sua vida, Michael, você ficou tímido em falar sobre sexualidade. Como quando Oprah perguntou sobre sua vida sexual, você respondeu desse jeito: “Eu sou um cavalheiro e não falo sobre isso."

Você sente que deveríamos ser mais respeitosos sobre o lado sexual de nossas vidas? Você acha que isso se tornou algo exagerado? Quero dizer, você é naturalmente tímido sobre esse assunto.

MJ: Sim, eu sou apenas naturalmente, porque eu acho que isso é ...

SB: Particular?

MJ: Sim, essa é a minha opinião pessoal. Outras pessoas são exibicionistas, você sabe, naturalistas, que saem nuas e se sentem diferentes assim. Eu não sei, eu sou apenas diferente nesse assunto.

SB: Não temos que abusar de nossa sexualidade para aumentar as vendas de ingressos e discos?

MJ: Não, isso é loucura, como alguns desses cantores com bojos dentro da calça, isso é loucura. Eu não entendo isso. É nojento para mim quando eles fazem coisas desse tipo. Isso é embaraçoso. Eu não quero nem que me olhem para baixo... procurando por 'aquilo'. Isso me deixaria com tanta vergonha, oh Deus.

SB: Não seria isso um sinal de insegurança, talvez? Talvez eles achem que a dança deles não seja boa o suficiente e então tentam trazer atenção para outra coisa.

MJ: Sim.

SB: Sua mensagem para alguém como Britney Spears seria: " Olha, você é bonita e talentosa. Não precisa ser sórdida. Você é tão talentosa sem arrancar tudo, as pessoas irão olhar para você.

Igual a Madonna, que frequentemente tem sido criticada por tirar vantagem do desejo sexual masculino para poder ter esses caras babando atrás dela, para fazê-la popular.

MJ: Sim, uh huh. Aha.