Partes 04, 05 e 06

Parte 04 - A eterna criança em Michael
Parte 05 - Michael, as crianças e Elisabeth
Parte 06 - Michael e Shirley Temple

Parte 04 - A eterna criança em Michael

SB: Quando as pessoas usam a expressão adulto, pode significar maduro, equilibrado, educado, moderado. Pode significar paciente. Mas às vezes tem conotações negativas que eu quero que você comente. Pode conotar ser cínico, que não pode se confiar, que faz intrigas, manipulador, corrupto, que julga, assustado. Me diga algumas das coisas negativas que os adultos aprendem enquanto envelhecem.

MJ: Eles têm tanto tantos problemas, os adultos. Eles têm estado tão condicionados pelo pensamento e os sentimentos dos outros. É por isso que eu não confio na maioria dos cães. Não é o cachorro. É porque pessoas pousam o que eles acreditam e toda a raiva e frustração está encravada naquele cachorro e ele se torna essa coisa viciosa e louca. E eu não sei o tipo de coisa que ele traz com ele, para mim, quando vem me cheirar. Então é como se fosse outro adulto. É por isso que fico com medo.

SB: Então você quer saber quais são os motivos da pessoa. Você quer saber se ela tem uma natureza viciosa ou...

MJ: Sim. Mas essa é a perfeita representação do que as pessoas se deixaram transformar. Em algum lugar, no caminho, elas se perderam e eu acredito em apenas permanecer como uma criança, inocente e simples. Como Jesus disse " O maior dentre mim é como esta criança aqui. Sejai como ela serás o maior aos meus olhos." Quando muitos adultos primeiramente vêm até mim, eles olham para mim e checam o que você veste e com quem você está. Eu percebo isso. Então, uma vez que falam comigo e veem que eu sou apenas uma pessoa simples, que quer ser amiga, o coração delas derrete. Eu percebo.

SB: Então, crianças aceitam melhor inicialmente. Elas não julgam.

MJ: Sim, elas deixam sair tudo. Elas dizem " Oh meu Deus, é Michael Jackson." E eu respondo "Oi." Um adulto sorriria e diria "Oi." Então, julgaria um pouco e diria " Eu gosto do que você faz" mas eles não deixam tudo sair. [Não se deixam parecer impressionados].

SB: Por que não se deixam? Por que engarrafam o entusiasmo? Estão tentando mostrar "Não vou ser vencido por você... Eu sou uma pessoa também." É insegurança?

MJ: Eles passam por uma guerra psicológica, como se aproximar de mim, o que dizer, o que não dizer. Mas o que eu quero que eles saibam é que eles deveriam ser eles mesmos, ser como uma criança. Ser inocente. Ser do jeito que eram quando nasceram.

SB: Talvez o que você esteja dizendo para eles é isso: "Eu não estou tentando ser maior do que vocês. Eu sou quem eu sou, e vocês só sejam quem são. É quase como se você estivesse dizendo que crianças são mais iguais à você do que os adultos.

MJ: Claro que elas são. Eu me relaciono com elas muito mais fácil. Elas não vêm até mim com toda a bagagem e tal. Elas só brincam. Não querem nada de você. Você não quer nada delas além de amor e inocência, e encontrar a verdadeira felicidade e magia juntos.

SB: É como se os adultos te fizessem ser alguém que você não quer ser. Você não quer ser defensivo e artificial e não quer ter uma conversa fiada e estúpida. Quando crianças vêm até você, com todo aquele entusiasmo: 'você é Michael!' Mas perto de adultos, você vem com uma agenda. Você dá a analogia do cachorro. Você não sabe como reagir, então fica defensivo. Eles te transformam em alguém que você não quer ser.

MJ: Isso mesmo. É por isso que eu me tornei... não vou dizer que eu deixei que eles vencessem a guerra, mas eu apenas não me importo em estar perto deles. Pode levar essa mensagem. Você mudará muitas pessoas [para serem mais como uma criança]. Nós iremos literalmente e mentalmente batizá-los com nossas palavras e nossos livros, com o que quer que fizermos. Mas há tantos lá fora que fecharam mentalmente a porta e que não querem mudar, se recusam a ver a luz. Mas podemos ajudar muitas pessoas, muitas delas são muito, muito difíceis. Elas têm estado tão condicionadas.

Mas eu acredito que você pode mudar muitas pessoas. É isso o que é maravilhoso nisso tudo. Você pode mostrar à eles. Há 'crescidos' que vem para Neverland e dizem "Sabe, eu não tenho feito essas coisas há muitos anos...¨

Você pode baixar a guarda e ser criança de novo." Eu digo "É para isso que serve Neverland. Para retomar a inocência. Para se divertir."

Parte 05 - Michael, as crianças e Elisabeth

SB: Você acha que as crianças podem nos ensinar o amor?

MJ: Sim, de um jeito diferente, pois são muito cheias de afeições. Elas podem nos ensinar afeição e é afeição quintessencial e pura inocência. É por isso que eu as amo tanto. Eu estava dizendo para o Frank outro dia, "Frank, eu sou apaixonado pela inocência. É por isso que amo tanto crianças." Inocência é Deus. Ser inocente assim e alcançar coisas com um olhar doce da vida... Onde uma criança vai pela casa você diz "O quê está fazendo?" ela responde " ei lá, brincando."

É doce. Eu adoro isso. É por isso que eu estou na pintura [na parede da casa de Michael há uma pintura mostrando centenas de crianças brincando em Neverland]... Uma criança está gritando ao vento, porque está se sentindo muito bem. Está gritando porque está gritando. Eu adoro isso. Romance. Romance.

SB: Quase como se eles acreditassem no amor, eles não têm medo de se machucarem. As pessoas têm medo do amor, hoje em dia.

MJ: São o amor e o romance duas coisas diferentes? É por isso que eu fico confuso. Eu vejo o romance como uma coisa que se anseia. Anseia-se, por isso além de um estágio.

SB: Você vê o romance como que inventado pelos filmes de Hollywood?

MJ: Sim, bastante.

SB: Crianças são bastante românticas. Elas têm romances no jardim da infância.

MJ: Quer dizer, quedinhas por outras crianças?

SB: Sim.

MJ: Sim, elas têm. Elas te ensinam a ser amoroso e doce e nos ensinam de uma forma que provavelmente... Elas dão chance à todo mundo e eu ensino Prince e Paris à amar todo mundo.

Elizabeth Taylor é bem como uma criança. Não há o que você possa fazer quando ela diz "Eu não quero fazer isso." Quando saiu Vida de Inseto, ela me perseguiu até conseguir ajustar minha agenda para podermos assistir esse desenho. Então, tivemos que ir a um cinema público às 1:00 h, mais ou menos. Ela me fazia sair toda quinta-feira, pois ela dizia que eu era muito recluso.

Todo mundo estava no trabalho, então não havia ninguém lá e nunca pagamos... Nós chegamos sem nada e eles diziam sempre "Oh meu Deus. Elizabeth Taylor e Michael Jackson." Nós tínhamos pipoca grátis, tudo. Ela adorava Vida de Inseto e ama Neverland. Ela vai ao carrossel e na roda gigante, mas não nos carrinhos de bate-bate. Há outra qualidade de criança em Elizabeth Taylor. Em Jane Eyre, quando ela tinha 8 ou 9 anos. Nossos pais eram muito parecidos, duros, difíceis e brutais. Ela é brincalhona, jovial e feliz, e acha uma forma de rir, mesmo quando está sofrendo.

Está sempre pronta para brincar qualquer jogo, ir nadar. Ela é muito boa com crianças. Ela adora brinquedos e desenhos animados. Eu aprendi muito com ela. Ela me conta sobre James Dean, Clark Gable, Spencer Tracey e Montgomery Clift, porque ela filmou com eles.

Ela me conta como eles realmente eram, os que eram pessoas legais e os que não eram. Estávamos em Cingapura - ela esteve na maior parte da turnê Dangerous comigo - e decidimos que iríamos ao zoológico. E saíamos, tivemos nossa turnê particular e nos divertimos. Ela é madrinha de Prince e Paris e Macaulay é o padrinho. Ela reteve aquelas qualidades de menininha. A meninina que você vê em Jane Eyre e em Lassie Come Home, ainda está lá. Está nos olhos dela. Ela tem esse brilho como uma criança. Ela é tão doce.

Mas Shirley [Temple Black], também. Ela diz "Você entende, não é? Você é um de nós!" [Elizabeth Taylor e eu] nós somos como irmão e irmã, mãe e filho, amantes... é um potpourri... É algo especial. Nós ficamos choramingando ao telefone... "Eu preciso de você... Oh, eu preciso de você, também."

Podemos conversar sobre qualquer coisa. Ela tem sido minha mais leal amiga. Ela diz que me adora e que faria qualquer coisa por mim. Ela diz que Hollywood teria que escrever um livro sobre nós dois. Nós temos que fazer alguma coisa juntos.

SB: Você fica com ciúmes quando ela namora outros homens? Ela se casou no seu quintal.

MJ: Se eu fico com ciúmes? Sim e não. Eu sei que se fizéssemos alguma coisa no sentido romântico, a imprensa seria tão má e repugnante e nos chamaria de O Casal Estranho. Transformaria tudo num circo e isso é a dor de tudo. Sabe, eu a empurro na cadeira de rodas, às vezes, quando ela não consegue andar. Não é da conta de ninguém o que temos. Eu tenho que estar com pessoas como eu. Alguns rappers dizem para mim "Vamos sair. Vamos a um clube." E eu digo " O quê? Sair? Eu acho que não!" Esse tipo de coisas não é parte de mim.

Naquela turnê [Dangerous], ela me alimentou, pois eu não queria comer. Quando eu fico chateado, eu paro de comer, às vezes até eu cair inconsciente. [As acusações de abuso sexual foram feitas contra Michael quando ele estava em turnê em 1993]. Ela pegava a colher, abria minha boca e me fazia comer. Ela dizia que não me deixaria ir sem ela, e os médicos dela a aconselhavam a não fazer isso.

Ela foi a Tailândia e seguiu com a turnê até Londres. Eu terminei na casa de Elton John e ele foi muito gentil em me acolher. Ele foi uma das pessoas mais gentis que eu pude conhecer nesse planeta. Ele e eu tomamos conta de Ryan White, e todas as despesas médicas dele. Então, eles começaram a fazer por via intravenosa. Eu passei por essa séria de crise alimentar quando fiquei semanas sem comer. Tomei coisas para ganhar peso.

O que me desmotiva é que eu não gosto de comer nada que uma vez estivesse vivo e que agora está morto, no meu prato. Eu quero ser um vegetariano rígido, mas meus médicos sempre tentam colocar frango e peixe.

Parte 06 - Michael e Shirley Temple

SB: Estávamos falando de Shirley Temple. Ela te disse que em você, ela achou um espírito de afinidade, pois você foi uma estrela mirim e ela foi uma estrela mirim?

MJ: Absolutamente.

SB: Então, você arranjou para ir visitá-la?

MJ: Bom, um amigo dela é amigo meu. Eu conheço esse cara por vinte e cinco anos, e ele é um doido. [Michael se refere ao produtor/promoter David Gest, mais conhecido fora de Hollywood por casar e depois se divorciar de Liza Minelli]. Mas ele se tornou uma pessoa poderosa de verdade, pois produz muitos shows e faz todos esses eventos para celebridades, e ele é um cara legal. Então eu fui lá com ele. Fomos muito também ao Memorabilia Convention porque EU ADORO FILMES MEMORIAIS. Eu estava disfarçado lá todos os dias, mas eu acho que eles sabiam que era eu. Mas foi divertido. Me diverti bastante com Shirley Temple.

SB: Quanto tempo passou com ela?

MJ: Muitas horas. Eu fui para a casa dela. Saí de lá me sentindo batizado, mesmo. Eu não sabia que iria acabar chorando quando a visse e eu chorei. Eu disse "Você sabe como salvou minha vida!" Ela disse "Como assim?" Eu disse "Muitas vezes, eu estive no fim prestes a jogar a toalha e então eu apenas pegava sua foto e sentia que havia esperança e que podia sobreviver a isso!" E ela respondeu. "Mesmo?" Eu disse "Sim!"

Tinha um cara que viajava comigo. O trabalho dele era, antes de eu chegar ao hotel, ele deveria colocar fotos de Shirley Temple no quarto. Eu fiz isso por muitos, muitos anos. Todas as fotos dela e recortes, era o que ele fazia. Então quando eu chegava, eu a via. Eu a tinha no espelho do camarim. Ela era tão feliz. Ela disse "Eu te amo, quero que sejamos mais próximos. Quero que você ligue para mim, entendeu?" Ela olhou para mim e disse "Sinto muito, eu cresci!" Eu disse "Você não deve se desculpar, pois eu sei como é, passei por isso!"

Houve uma vez, eu estava num aeroporto - e eu nunca me esquecerei disso enquanto eu viver - e tinha uma senhora que disse " Oh, os Jackson 5. Oh meu Deus! Onde está o pequeno Michael? Onde está o pequeno Michael?" eu disse "Estou aqui!" Ela disse " rhhhg! O que aconteceu?"

Eles querem que você fique jovem e pequeno para sempre. Você passa por um estágio estranho e eles querem te manter pequeno. Ela [Shirley Temple] passou pelo pior, pois ela não só passou por esse estágio, era o fim da carreira dela. Mas eu me formei em outras coisas. Muitas das estrelas mirins não conseguem por que se tornam auto destrutivas. Elas se destroem por causa dessa pressão.

SB: Que tem a pressão?

MJ: A pressão que eles foram tão amados e quando alcançam certa idade, os estúdios não os querem mais. O público não os reconhece mais. Há um 'deu de si'. Muitos deles não passam dos 18 ou 19, ou em seus 20 anos... Essa é a verdade - como em Our Gang Kids. Bobby Driscoll que fez So Dear to my Heart, Song of the South, morreu aos 18. Todas essas pessoas, se você traçar a vida delas, é a mesma coisa, é duro.

SB: Você conversou sobre isso com ela?

MJ: Sim, conversamos.

SB: Como foi para ela a transição de ser uma grande estrela mirim para uma pessoa adulta sem mais bonitinha?

MJ: Ela disse que foi muito forte e que isso foi muito duro e que chorou muito. E você chora muito. Eu chorei bastante. Ela foi muito forte com isso, e é duro. Ela está escrevendo outro livro. Ela escreveu um. Está escrevendo outro. O primeiro se chama Child Star. Eu não li. Não estou pronto para ler.

SB: Você sente que ela é uma das poucas pessoas que te entendem , pois você não teve infância como ela?

MJ: Eu disse para ela "Você curtiu?" Ela disse que adorou e eu disse "Eu adorei também." Eu adorava estar no palco e adorava performar, mas há aqueles como Judy Garland, que eram empurrados para lá, que não queriam fazer isso, e ficava difícil. Elizabeth passou por isso. Ela passou um inferno e ela foi uma estrela mirim, e por isso que nos entendemos tanto. Nós entendemos mesmo.

SB: Todas as estrelas mirins são como você? Todas elas amam crianças?

MJ: Todas amam crianças, todas. Elas têm essas coisas para brincar em volta delas e agem como crianças, porque nunca tiveram a chance de ser crianças. Elas têm essas coisas divertidas em casa e ninguém entende. Nunca houve um livro escrito sobre isso, por que há pouco de nós que sobreviveram e podemos falar sobre isso. Não é fácil... Não é fácil.

SB: Você se sente seguro perto dela? Você disse que se sentiu batizado. Você se sentiu redimido estando na presença dela?

MJ: Mmmm, sim. [Ele começa a chorar] Eu não sei se você entende.

SB: Para ser honesto, não completamente, mas eu quero compreender.

MJ: Não compreende mesmo, compreende?

SB: Eu tenho tentado. Apenas explique para mim de onde vem a dor? Você consegue explicar, ou quando você está perto de Shirley você não tem que explicar. Ela apenas entende?

MJ: É como telepatia. Você consegue sentir a fala do outro e olhar nos olhos e eu a sinto, e ela me sente assim. Você pega e detecta tão rápido. É como se comunicar silenciosamente. É assim e eu sabia que me sentiria assim quando a visse, eu sabia. É o mesmo com Elizabeth [Taylor].

SB: Qual é a origem da sua dor, Michael? Quando você chora assim, o que machuca?

MJ: O que machuca é que tudo acontece tão rápido e o tempo passa tão rápido. Você sente que perdeu tanta coisa. Eu não faria de novo nada disso. Mas a dor vem do fato de que você não teve mesmo a chance de fazer coisas simples e importantes e isso dói. Coisas pequenas e simples como, eu não sei... Eu nunca tive aniversários, natais ou dormi na casa de amigos ou nada dessas coisas simples e divertidas. Ou fazer compras, pegar coisas na prateleira, sabe, essas coisas simples como sair na sociedade e ser normal.

SB: Então o mundo inteiro sonha em estar diante de cem mil pessoas num concerto e você está sonhando com as pequenas coisas que todo mundo faz?

MJ: Por isso que quando faço amizade, geralmente não é com celebridades, geralmente é com famílias simples e normais em algum lugar. Eu quero saber como é a vida deles. Foi por isso que eu fui àquela cabana na China ou para algumas daquelas casas flutuantes na América do Sul. Eu quero saber como é. Eu já dormi em lugares loucos onde as pessoas dizem "Você está doido?" e eu digo "Não, eu quero saber como é."

SB: O quê você sente que perdeu? Você sente que perdeu algo essencial na vida? É quase como em sua infância, que você pode ser amado sem ter que se provar. É isso o que você sente falta? Que você sempre tenha que trabalhar, se testa, você não poderia apenas viver? Você tinha que ser avaliado, julgado, encarado. Você é um item de curiosidade?

MJ: Sim, e você fica cansado e se desgasta. Não dá para ir a algum lugar onde não manipulem o que você faz o que você diz, isso me incomoda muito, e você não tem nada a ver com o que eles escrevem, nada. Ser chamado de Whacko (doido), isso não é legal. As pessoas pensam coisas erradas sobre você, porque eles inventam. Eu não sou nada disso. Eu sou o oposto.

SB: Alguém disse que a essência da solidão é sentir que não é compreendido. Você se sente sozinho onde está por essa razão?

MJ: Sim, claro.

SB: Você está por sua conta, e se sente tocado quando está com alguém como Shirley Temple, pois sente o mesmo tipo de solidão?

MJ: Sim, ela entende. E você pode falar com ela. É difícil fazer outras pessoas entenderem por que não passaram por isso. Você tem que sentir, você tem que tocar, saber como é de verdade.

SB: Shirley Temple manteve as qualidades de criança do jeito que você manteve? Ela é brincalhona, ou você puxou isso para fora dela?

MJ: Apenas estava lá, ela veio até a porta de avental. Ela estava cozinhando e depois almoçamos. Ela ficava tocando a minha mão sobre a mesa, carinhando-a, como se soubesse o que fazer, entende? Depois ficamos à mesa e conversamos, apenas isso. Eu estava vendo aquelas fotos maravilhosas. Ela tinha cada filme que tinha feito em sua figura pitoresca naquele livro e eram todos originais de Georige Hurrel, um grande fotógrafo, e você vê essas coisas e é incrível.

Ela tinha todos os vestidos que tinha usado nos filmes. Ela tinha tudo. Eu prometi para ela que faria um museu para estrelas mirins e ela me daria o que tinha para o museu e eu iria conseguir outras coisas, todas as fotos, tudo, para honrar estrelas mirins. As pessoas não sabem o que aconteceram com elas.

Eu não acho que as pessoas saibam que Bobby Driscoll desapareceu por mais ou menos um ano e ninguém o reconheceu. A própria família dele não sabia que ele estava num túmulo pobre, por overdose de heroína. Ele era um gigante da Disney, a voz de Peter Pan. Ele fez So Dear To My heart. Ele ganhou um Academy Award por The Window e Song of the South. Eu vejo esses jovens e consigo me identificar com eles assim.

SB: Você vai vê-la novamente?

MJ: Oh sim. Vou convidá-la para Neverland. Ele me pediu para dar um alô para Elizabeth. Ela perguntou muito por ela.

SB: Elas se conhecem?
Shirley Temple
MJ: Elas têm se visto e passado algum tempo juntas. Mas eu disse para Elizabeth hoje e ela disse "Ohhh. Você precisa dizer 'Oi' por mim." Eu contei para Elizabeth que passei o final de semana com ela, e ela disse "Passou?" eu disse "Sim." E ela ficou chocada porque eu tenha ido lá. Foi ótimo.

SB: O que havia em Shirley Temple, especificamente, que te tocou profundamente, e você acha que qualquer garotinha possa ter uma Shirley Temple por dentro?

MJ: A inocência dela, como ela me faz sentir bem quando eu estou tão triste. Era tanto pela dança e canto dela. Era o ser dela. Ela tinha o dom de fazer as pessoas se sentirem bem por dentro. Todas as crianças têm isso, cara, ela é tão angelical comigo e toda vez que a vejo, pode ser em filme ou em uma foto, eu me sinto tão bem. Eu tenho fotos dela em todo o quarto lá. Me faz tão feliz.

SB: Você viu Shirley Temple em Shirley Temple Black quando a viu aqui? Ela ainda era uma garotinha? Ela era como você? Ela manteve a inocência de criança, ou você puxou isso nela?

MJ: Ainda está lá. Ela é tão doce.

SB: Quantas pessoas você conheceu que são assim? É realístico? Você conhece muitos adultos que podem ser indefesos e que não precisam que você levante sua guarda em relação à eles, ou que não se sintam intimidados?

MJ: Muito poucos.

SB: Então, poucos têm isso. São pessoas como Elizabeth Taylor, especialmente estrelas mirins? Pessoas que não tiveram infância e que passam a vida tentando reganhá-la, é isso que as faz como crianças?

MJ: Sim, e algumas pessoas têm isso naturalmente. Muitas pessoas criativas têm, e tiveram infâncias ótimas. Eu conheci pessoas assim e trabalhei com elas, foram diretores e escritores, e parecia que estávamos todos no mesmo caminho. Colecionávamos as mesmas coisas, éramos fascinados pelas mesmas coisas.

Eu vi. Eu vi o porão de George Lucas e tudo o que ele coleciona é o mesmo o que eu coleciono. Steven [Spielberg], o mesmo o que eu gosto e coleciono. Trocamos notas nessa troca de coisas. São coisas simples como figuras de chicletes velhos e certas revistas... até pinturas originais de Norman Rockwell. 

Quero dizer, eu estava na casa de Steven Spielberg hoje e ele tinha a mais linda e original pintura de Rockwell. É tão grande e linda.