Partes 10, 11 e 12

Parte 10 - Michael fala sobre crianças especiais
Parte 11 - Michael fala sobre Gavin e outras crianças
Parte 12 - Sobre esposas e filhos

Parte 10 - Michael fala sobre crianças especiais

SB: Não havia um garoto do qual você foi muito próximo e que adquiriu AIDS numa transfusão de sangue?

MJ: Ryan White. O mais difícil para mim foi... Eu vou responder, mas não entendo porque uma criança morre. Não entendo mesmo. Eu acho que deveria haver uma janela onde houvesse a chance de morre , mas não essa janelo do tempo.

Quando uma criança morre, ou está doente, eu realmente não entendo. Mas eu ouço Ryan White, de 12 anos, à minha mesa de jantar, em Neverland, dizendo para a mãe como enterrá-lo. Ele disse "Mãe, quando eu morrer, não me ponha terno e gravata, eu não quero estar de terno e gravata. Me ponha num jeans  OshKosh e uma camisa." Eu disse "Eu preciso ir ao banheiro" e eu corri para o banheiro e chorei horrores.

Ouvir esse garotinho dizer para a mãe como enterrá-lo. Isso me machucou. Era como se ele estivesse preparado para isso e quando ele morreu ele estava usando jeans OshKosh, uma camisa e um relógio que eu dei para ele. Eu estava sentado, sozinho nessa sala e ele estava jazendo lá e eu me senti tão mal.

Eu só queria abraçá-lo e beijá-lo, dizer que o amava, e eu fiz tudo isso quando ele estava vivo. Eu cuidei dele e ele ficou na minha casa. Mas vê-lo deitado lá... Eu falei com ele "Ryan eu prometo que farei alguma coisa em sua honra, em meu próximo album. Eu vou criar uma canção para você. Eu vou cantá-la. Eu quero que o mundo saiba quem você é. " Eu fiz Gone Too Soon. Essa foi para ele.

SB: Você acha que ele te ouviu, quando você falou isso? Você se sente em contato com a alma de pessoas que você amou e perdeu? Você ainda se sente perto deles?

MJ: Sim. Sim. Sim.

SB: Então você teve que lidar com a morte dele e de outras pessoas as quais você era próximo?

MJ: Isso me machuca muito. Outro garoto chegou até mim e ele era branco como a neve, literalmente, branco como a neve ou como um pedaço de papel. Ele estava morrendo de cãncer e ele me amava, ele veio até o meu quarto e viu as jaquetas que eu usava e os vídeos, ele as vestiu e estava no paraíso. Me disseram que ele não não iria viver. E qualquer dia ele apenas iria, eu disse "Olha, eu vou visitar sua cidade."

Eu acho que ele estava em Kansas City. Eu disse: "Eu vou abrir minha turnê em Kansas City em três meses. Eu quero que você venha ao show. Eu vou te dar essa jaqueta." Ele disse "Você vai dá-la para mim?" Eu disse "Sim, mas eu quero que você a vista para o show." Eu estava tentando fazê-lo aguentar. Eu disse "Quando você vier ao show, eu quero te ver com essa jaqueta e com essa luva."

E eu dei à ele uma das minhas luvas de lantejoulas. Ele estava no Paraíso. Quando eu cheguei à cidade, ele estava morto e o enterraram com a jaqueta e com a luva. Ele tinha 10 anos. Deus sabe, eu sei que ele tentou o máximo para aguentar.

SB: Você fica bravo com Deus quando coisas assim acontecem?

MJ: Não. Eu só não entendo. Eu gostaria que pudéssemos saber mais sobre o outro lado. Eu sei da promessa de vida eterna e de estar no Paraíso. Mas por que sofrer, por que sentir antes de atravessar para a luz branca, ou que quer que seja? Deveria ser a experiência mais linda, seja o que for. Essa história sobre o garoto foi verdade. Eu gostaria que você pudesse ver o rosto dele, Shmuley, gostaria mesmo.

SB: E essa foi uma história de promessa, certo? Você disse à ele "Se permanecer vivo..." Certo?

MJ: Sim, eu estava tentando fazê-lo aguentar. Disseram que ele iria morrer e eu disse "Eu sei que eu posso fazer alguma coisa sobre isso." Sabe, eu estava tentando fazê-lo olhar para frente, a aguentar e eu disse "Vista isso para o show" e ele estava tão feliz. Quando eu cheguei à cidade, ele estava morto. Me matou. Me matou.

SB: Como você se sente, descreva o sentimento para mim, por apenas um minuto. Como você se sente quando está perto de ,,,[ uma menininha doente de câncer que Michael e eu conhecíamos]?

MJ: Eu a amo.

SB: Você sabe que poderia fazer a diferença com eles e você sabe disso, apenas por estar perto de você, parte da doença deles quase vai embora. Você sabe que os rabinos anciãos disseram que toda vez que se visita alguém doente, se tira uma pequena porcentagem da doença deles, mas com você, é quase como se você tirasse 50% da doença deles, sabe? Eu sei que você sabe disso.

MJ: Sim, sim. Eu adoro fazer as pessoas... Eu não gosto de ver pessoas machucadas ou sofrendo, especialmente crianças.

SB: Você sente que tem um poder de cura que foi dado à você? Ou é por causa da celebridade? Em outras palavras, ser uma grande celebridade, quando você dá atenção à uma criança, elas se sentem realmente bem. Elas sabem o quão famoso você é, elas se sentem "Uau, alguém tão famoso assim se importa comigo, eu devo ser especial." Mas isso é além da celebridade? É algo em você que você tinha antes da celebridade?


MJ: Eu acho que é uma coisa que eu devo fazer, porque eu sempre tive esse anseio de dar e ajudar e fazer pessoas se sentirem melhor.

SB: Você tinha isso antes em você quando você era o garoto Michael Jackson?

MJ: Sim.

Parte 11 - Michael fala sobre Gavin e outras crianças

SB: Eu disse para alguém, hoje, que a atenção que você dá para as crianças com câncer parece bem curativa para elas. Eu tenho visto. Quando você dá esse tipo de atenção à criança, você sabe que a está curando?

MJ: Eu as amo. Eu as amo.

SB: É também pelo fato de você ser muito famoso e, de repente, você canaliza toda aquela energia que você normalmente dá e a direciona para outra pessoa, e é como um facho de luz. Eu não nego que a celebridade possa ter um efeito restaurador, mas frequentemente tem um efeito corrosivo. Você tenta usar a sua celebridade para ajudar essas crianças?

MJ: Eu as amo demais. São todos filhos meus também. Eu me lembro, quando estávamos na Austrália e estávamos numa ala de crianças com câncer e comecei a distribuir brinquedos.

E eu nunca vou me esquecer de um garotinho que tinha uns 11 anos, e quando eu cheguei perto da cama dele ele disse: " É incrível que só em ver você eu me sinta melhor. Me sinto mesmo." Eu disse "Bom, isso é lindo." Foi o que ele disse e eu nunca vou me esquecer. É incrível e é isso o que deveríamos fazer.

SB: Sua devoção à Gavin [que mais tarde acusaria Michael] é impressionante. Eu tenho falado sobre isso em mil fóruns agora. É uma das coisas mais bacanas que eu já vi. Que você tente ajudá-lo e a família dele.

MJ: Ele é especial.

MJ: Eu falei com Gavin noite passada e ele disse: 'Michael, você não sabe como dói. Isso dói.' Ele começou a chorar ao telefone e disse: 'Eu sei que você entende como é. Dói tanto.' Eu disse: 'Bom, quanto mais (sessões) você tem?' Ele disse: 'Talvez quatro. Mas os médicos disseram que teria mais depois disso.' Isso tirou os cílios dele, as sobrancelhas e os cabelos. Temos tanta sorte, não temos?

SB: Você acha que quando fala com pessoas como Gavin, parte da dor cessa neles?

MJ: Absolutamente. Por que toda vez que eu falo com ele, ele está melhor disposto. Quando eu falei com ele noite passada ele me disse "Eu preciso de você. Quando você vem para casa?" Eu disse: "Não sei". Ele disse: "Eu preciso de você, Michael."

Então ele me chamou de pai. Eu disse: "É melhor você perguntar seu pai se está tudo bem me chamar assim." Ele gritou: "Pai, está tudo bem se eu chamar Michael de pai?" e ele respondeu: "Sim, não tem problema, tudo o que você quiser". Crianças sempre fazem isso. Eu fico feliz quando elas se sentem confortáveis assim.

SB: Você se sente como um pai universal para as crianças, que você tem a habilidade de amá-las e apreciá-las de uma forma que outros não fazem?

MJ: Eu sempre sinto isso, eu não quero que os pais sintam ciúmes, po que isso sempre acontece. Não tanto com as mães. Eu sempre digo aos pais "Eu não estou tentando tomar o seu lugar. Eu só estou tentando ajudar e quero ser seu amigo." As crianças acabam se apaixonando pela minha personalidade. Às vezes isso me causa problemas, mas eu só estou lá para ajudar.

SB: Eu te perguntei o que os pais podem aprender com os filhos, e você identifica algumas coisas - amor de diversão, inocência, alegria. Que outras coisas podemos aprender com as crianças? Por exemplo, quando você está perto de Gavin, o que você aprende com ele? Você só está lá para ajudar uma criança que tem câncer? O que você aprende dessa experiência? É apenas uma demonstração de pena, compaixão por uma criança em apuros? Ou você sente que essa é uma razão para você estar vivo?

MJ: Eu sinto que é algo em meu coração que eu realmente, realmente devo fazer, e eu me sinto tão amado por dar o meu amor, e eu sei que é isso o que eles precisam. Eu tenho ouvido médicos, e os médicos dele dizem que é um milagre que ele esteja melhorando e é por isso que eu sei que a magia do amor é tão importante.

Ele perdeu parte da infância e eu acho que posso refletir muito nisso, por causa do meu passado. Quando você tem dez anos, você não pensa no Céu ou em como vai morrer e ele estava pensando em tudo isso.

Eu tive a visita do pequeno Ryan White na minha sala de jantar, falando para a mãe dele à mesa: "Mãe, quando você me enterrar, eu não quero estar de terno e gravata. Não me ponha terno e gravata. Eu quero estar de jeans e camisa."

Eu disse: "Com licença, eu preciso ir ao banheiro." Eu corri para o banheiro e chorei. Imagine um garoto de 12 anos dizendo para a mãe como enterrá-lo. Foi isso que eu o ouvi dizer. Como pode o seu coração não amolecer por uma pessoa assim?

SB: Visto que você foi privado dessa infância e agora você está tentando conferí-la como um presente para essas crianças, você se cura através disso?

MJ: Sim, sim, eu me curo. Por que isso é tudo. Eu preciso disso para continuar vivendo. Você viu o que Gavin escreveu no livro de convidados sobre o chapéu dele? É uma estória linda.

SB: Eu contei essa estória para o mundo todo.

MJ: Eu gosto de dar à eles esse amor e esse orgulho para sentir que eles pertencem e que são especiais. Ele estava se escondendo e estava envergonhado por estar careca e ele tinha câncer. Todos fizeram ele se sentir excluído e foi assim que ele chegou aqui e eu queria que ele se livrasse disso. Ele é uma criança linda, ele não precisa daquele chapéu. Eu disse para ele "Você parece um anjo. Sua voz parece com a de um anjo. Até onde eu sei, você é um anjo. Do que você tem vergonha?"

MJ: Você acha que as crianças apreciam mais você do que os adultos?

MJ: Oh sim, claro. Adultos me apreciam artisticamente como um cantor e compositor, como dançarino e artista. Como ele é? Quem é ele? 'Ele é esquisito e dorme numa câmara hiperbárica' e todas aquelas estórias loucas e horríveis que as pessoas inventam que não tem nada a ver comigo.

SB: As crianças veem através disso e retribuem seu amor. Eu vi isso com Gavin.

MJ: Elas só querem se divertir, dar e receber amor, elas só querem ser amadas e receber ajuda.

SB: Você luta contra esse senso de cuidado? Houve um tempo em que você disse a si mesmo: "Eu não me importo com ninguém. Eu vou me entregar a uma massagem agora e relaxar numa Jacuzzi. Acabou o concerto e só vou pensar em mim" ou mesmo assim, você continua pensando no que poderia fazer pelas crianças?

MJ: De verdade no meu coração, eu as amo e eu me importo mais do que tudo. Eu ainda estou cuidando de Gavin. Ele teve quimioterapia ontem, está fraco e não está se sentindo bem e isso toca o meu coração. Meu coração sai para o mundo. Eu acho que sou como a minha mãe. Eu não sei é genético ou do ambiente.

Eu me lembro de quando éramos pequenos, ela assistia os noticiários e até hoje ela tem que assistí-los com lenços. Eu sou igual, eu começo a chorar quando assisto notícias sobre a mulher que jogou os filhos no lago, um se afogou e o outro sobreviveu. Eu convidei as crianças para virem aqui e eu fui ao funeral, paguei pelo funeral e eu nem conhecia essas pessoas, mas você ouve essas coisas. É como se perguntar 'por que não há mais pessoas como Madre Teresa? Por que não há mais pessoas como Lady Diana?'

SB: Elas são famosas por serem boas, mas você é famoso e é bom, há uma diferença muito grande. Mesmo Diana, Diana era uma boa mulher. Eu não a conheci. Você a conheceu. Ela tinha muitas qualidades santas e fez muita bondade. Ainda assim, ela gostava da vida de brilho falso. Mas você ama crianças. Por quê?

MJ: Eu não estou tentando ser filosófico, mas eu realmente penso que é meu trabalho ajudá-las. Eu acho que é minha vocação. Eu não me importo quando as pessoas riem ou com o que dizem. Crianças não tem voz na sociedade e eu sei que é a hora delas agora.

De agora em diante, é a vez delas. Elas precisam da consciência mundial e de assuntos para lidar, e isso é para elas. E se eu puder ser essa luz, esse pedestal apenas para brilhar alguma luz sobre quem elas são, é isso o que eu quero fazer. Eu não sei como Deus escolhe as pessoas, ou se joga xadrez com as pessoas, e coloca você em uma posição e te ajusta ali.

Às vezes eu me sinto assim, como se esse fosse o meu lugar. Eu penso desde Gandhi à Martin Luther King, a Kennedy, a mim mesmo, a você. Você acha que esses homens se fizeram, de nascimento, você pensa que Deus disse "Aha!" com um sorriso... Você acha que isso apenas acontece através dos pais, ou eles deveriam fazer isso? Eu estou te fazendo uma pergunta.

SB: Eu acho que é a confluência de ambas as coisas. Grandes homens e mulheres nascem com o potencial para a grandeza. Mas isso normalmente tem que ser espremido para fora deles através de um evento externo. Há grandeza nas pessoas, mas eventos externos as ajudam a desenvolvê-los.

A grandeza é a sintese do potencial inato do homem ou da mulher, combinado com a habilidade deles de se levantar para o grande desafio. E quando você não tem uma resposta para a questão do porquê Deus te deu um sucesso fenomenal, você começa a murchar debaixo do fardo da fama. Você precisa ter algo como que um espelho que desvie toda essa atenção, toda essa luz que está brilhando sobre você para uma causa maior ou você será chamuscado pela intensidade dela.

Uma garotinha que eu conheci ontem à noite, tem 14 anos e é órfã. A mãe dela morreu quando ela tinha sete anos e ela nunca conheceu o pai. Ela veio ontem assistir o Rei Leão por que ela é amiga de [ nome mantido em sigilo] e o grande desejo dela era conhecer você. Então eu disse à ela que a traria por alguns minutos essa semana para ela te conhecer.

MJ: Oh, quem está tomando conta dela?

SB: Ela mora com a avó e ela tem um padrinho que a trouxe ontem à noite. O padrinho dela tenta levá-la para sair e ela brinca  ocasionalmente.

MJ: As crianças se divertiram durante o show?

SB: Oh sim, elas adoraram. É lindo. A escola dessa menina órfã é alguns quarteirões distante do seu hotel. Talvez eu a traga e a deixe tirar uma fotografia com você.

Parte 12 - Sobre esposas e filhos

SB: Deixe-me perguntar sobre solidão. Então, para onde quer que você viaje, você, graças à Deus, tem uma equipe. Pessoas com quais esteve por muito tempo, Frank e Skip. Mas não é como ter uma esposa em sua vida ou algo assim. Você se sente solidão? Ou há muita coisa acontecendo em sua vida que não deixa que isso aconteça?

MJ: Tipo solidão por não ter esposa? Por um par? Algo assim?

SB: Sim.

MJ: Eu passei por divórcios difíceis e eu acabei de sair do segundo. Mesmo casado com essas mulheres com as quais eu casei, eu ia para a cama magoado. Eu estava magoado. Ontem a noite eu fui dormir chorando e não dormi bem.

E eu chorei Shmuley, por que eu sinto isso... E eu não estou tentando, eu estou dizendo a mais honesta verdade e se você não acredita pode perguntar ao Frank. Frank sabia o quanto eu estava magoado. Eu estava sentindo toda a dor de todas as crianças que sofrem e estava magoado demais. Por isso que eu estava tentando chegar em toda criança que eu conhecia e que estivesse sofrendo, desde [Michael menciona uma garotinha que batalhando contra um câncer e cuja família ele conheceu na casa dele] a Gavin [o menino que acusou Michael].

Eu estava tentando tipo, chamar, telefonar e quando eu acordava, a primeira que eu fazia era telefonar para a casa [da garotinha com cancêr] e naquele dia ela tinha morrido. Isso me machucou. Mas eu acho que é de onde o meu verdadeiro amor vem, Shmuley. Se eu puder ajudar dessa forma, eu fico bem e não preciso de outro amor romântico.

Sabe, se eu conheço uma garota em algum lugar e a acho bonita, o que eu acho em muitas delas, é ótimo. Quero dizer, eu vou a um encontro ou algo assim. Nada de errado com isso. Jennifer Lopez, outro dia estava incrivelmente linda, estava mesmo. Eu fiquei chocado por que eu nunca pensei que... Ela estava linda [Michael ri enquanto diz isso].

SB: Mas você desistiu de tentar que as mulheres te compreendam? Você tende a pensar que crianças vão te entender melhor?

MJ: Eu não sou fácil de conviver dessa forma, para uma esposa. Eu não sou fácil e eu sei que não sou fácil. Por que eu dou todo o meu tempo para outra pessoa. Eu dou para as crianças, para alguém que está doente em algum lugar, para a música. E as mulheres querem ser o centro.

E eu me lembro que Lisa Marie dizia "Eu não sou uma mobília. Eu não sou mobília. Você não pode..." Eu respondia:  "Eu não quero que você seja mobília" e sabe, havia uma garotinha doente ao telefone e ela ficou zangada e bateu o telefone na cara dela. Eu sinto que essa é minha missão, Shmuley. Eu tenho que fazer.

SB: E se você encontrasse uma mulher que fosse branda, que fosse incrivelmente branda?

MJ: Como uma Madre Teresa ou uma Lady Diana ou... Isso seria ótimo. Seria perfeito.

SB: Seria melhor do que ter de fazer o que faz sozinho?

MJ: Absolutamente, e Lisa era ótima em ir em hospitais comigo, e ela era um doce nisso. Eles amarravam os bebês na cama ou acorrentavam crianças. Nós as libertávamos... Íamos libertando todos aqueles bebês. Eu odiava isso [crianças acorrentadas] e ela, ela descobriu muita dessa injustiça comigo. Países como a Romênia e Praga, Tchecolosváquia e todos esses, Rússia.

Você tinha que ver o que eles fazem com as crianças nesses... Você ficaria chocado. Elas as acorrentavam às paredes como animais, nuas e dormiam ali, perto das próprias fezes. É muito triste, me deixava enjoado. Então comprávamos roupas e brinquedos e era só amor e amor. Eu as amava e voltava todo dia para vistá-las, e as abraçava querendo levar cada uma delas para Neverland.

SB: Quando você começou a se tornar uma estrela mirim, você percebia que sua infância estava escapando devagar? Você venceu um campeonato quando tinha 8 anos. Em 1964, você foi escolhido cantor líder da banda. Isso fez você ficar agitado ou você ficou preocupado? Você pensou consigo mesmo "Onde tudo isso vai dar?"

MJ: Eu não pensava nisso. Eu não pensava no futuro. Eu apenas vivia um dia de cada vez. Eu sabia que queria ser uma estrela. Eu queria fazer coisas e fazer as pessoas felizes.

SB: Você sabia o que iria te custar em termos de infância?

MJ: De jeito nenhum. De jeito nenhum.

MJ ao telefone: Diga aos caras para deixarem a música falar com eles e não, tipo, fazer tudo de vez. Ouça-a algumas vezes e deixe a melodia se criar. É assim, deixe a música falar com eles. Certo? Tchau!

SB: É esse o seu sonho que um dia, como parte de um futuro messiânico, com o tanto que você se importou. que todas essas crianças virão e viverão em Neverland e serão felizes para sempre?

MJ: Sim.

SB: E se você tivesse os recursos você faria...

MJ: Eu faria, Shumley. Eu faria. Eu adoraria.

SB: Lisa Marie era boa em, pelo menos, visitar. Então ela não tinha problemas em ir e fazer algumas dessas coisas de compaixão e dar a essas crianças amor e fazê-las se sentirem especial?

MJ: Ela não tinha problema algum em fazer isso, mas eu e ela tivemos muitas e grandes discussões, pois ela era muito territorial com os filhos dela. Os filhos dela eram o mais importante... E eu disse:  "Não, todas as crianças são nossos filhos" e ela nunca gostou disso em mim. Ela fica brava com isso. E mais, ela brigou comigo, uma ve, quando dois garotos em Londres mataram um menino e eu iria visitá-los, pois a rainha tinha dado à eles uma sentença perpétua de adulto.

Eles tinham entre 11 e 10 anos e eu iria à prisão visitá-los. Ela me disse:  "Seu idiota. Está recompensando-os pelo que fizeram." Eu respondi:  "Como ousa dizer isso? Eu aposto que se você traçar a vida deles, vai ver que não tiveram os pais por perto, que não tiveram amor algum, ninguém para abraçá-los, para olhar nos olhos e dizer 'eu te amo'. 

Eles merecem isso, mesmo pegando pena perpétua, eu apenas quero dizer 'eu te amo' e abraçá-los." Ela disse "Bom, você está errado." Eu disse: "Não, você está errada." Então surgiu a informação que eles vieram de famílias desfeitas, que nunca foram cuidados, quando crianças. O que os acalmava eram os filmes do Chucky, com todas aquelas facadas e matanças. E foi assim que eles ficaram condicionados.

SB: Ela admitiu depois que tinha uma razão?

MJ: Não, ela pensa que eu estou recompensando crianças ruins.

SB: Ela queria que você fosse um pai para os filhos dela?

MJ: Bom, isso foi perguntado à ela uma vez. Foi perguntando na TV e ela disse: "Não, eles têm pai. O pai deles é Keogh" - o outro cara. Mas eu era muito bom com os filhos dela. Todos os dias eu trazia alguma coisa para eles e eles ficavam me esperando na janela e me abraçavam. Eu os amo e sinto tanta falta deles.

SB: Ela morava em Neverland ou era muito isolado?

MJ: Lisa não morou em Neverland. Nós visitávamos Neverland como... Morávamos na casa dela, na cidade, e de vez em quando visitávamos Neverland. Era como um grande final de semana divertido.

SB: E os filhos dela gostavam?

MJ: Está brincando? Eles pareciam estar no Céu!

SB: E você ficava feliz em mostrar o lugar para eles?

MJ: Uhum.

SB: Significava mais para você em, de repente, ter uma família para mostrar o que tinha?

MJ: Sim, sim. É um lugar feito para a família, para reunir, reunir as pessoas através do amor, de um espírito de brincadeira e da natureza. Faz as famílias se aproximarem, Neverland. É curativa.

SB: Visto que você idolatra a família, foi difícil para você quando teve que se divorciar?

MJ: De quem?

SB: De Lisa.

MJ: Se foi difícil para mim?

SB:Você viu a 'revelação' ( the writing on the wall)? Que você era diferente? Quero dizer, meu pais se divorciaram quando eu tinha 8 anos, Então eu romantizei muito o casamento.

MJ: Mesmo?

SB: Oh de forma fenomenal. É a base de todos os meus livros, casamento. Pois eu não consigo lidar com...

MJ: Então você acredita mesmo em casamento e em tudo isso? Você ama o casamento?

SB: É no que mais acredito no mundo. Eu acredito na família, eu acredito mesmo.

MJ: Eu acredito também, Shmuley.

SB: Foi o que eu não tive. Eu até escrevi sobre você, em um dos meus livros no contexto de casamento, embora fosse antes de eu pensar em te conhecer. Esse era o ponto principal, era o começo do livro. Capítulo 1, o primeiro capítulo. Como começava? "No coração de nossas vidas há um forte e potente mistério. Michael Jackson sai do avião e trinta mil fãs esperam sua chegada. Ele se sente muito especial. Eles excitadamente gritam seu nome. Faltaram ao trabalho para cumprimentá-lo e trazer alegria à sua chegada.

Mas então, do mesmo avião sai Mr. Jones. Não havia trinta mil pessoas esperando pelo desembarque dele. Na verdade, havia apenas uma mulher, a senhora Jones, quem estava esperando. Mas enquanto todos passavam, mesmo quando Michael Jackson passou, ela ignorou todos eles. Para ela, o Sr. Jones era o mais importante, o mais emocionante do que a maior estrela do mundo.¨

Eu usei você como exemplo de como o casamento transforma uma pessoa em celebridade. Em outras palavras, para minha esposa, eu sou uma celebridade. Ela espera por mim em casa, ela tem uma foto minha na parede, sabe? Você se sente especial para uma pessoa. E na vida, tudo o que precisa é um fã de verdade.

MJ: É verdade.

SB: E o segredo para a vida é que você não precisa de trinta mil, cem mil. Você tem isso, Michael. Mas você pode contar em uma mão as pessoas que tem mesmo, no mundo. Mas a idéia no casamento é que você tenha um fã. Um grande fã que te ponha em primeiro. E isso é o que se precisa. Um fã sincera e amável, que te ama por quem você é, do que dezenas de milhares de pessoas que te amam pelo o que você faz. Esse foi o primeiro pensamento no mais importante livro que eu escrevi, Kosher Sex.

MJ: Isso é bonito, Shmuley. Obrigado.

SB: Eu nunca pensei que iria te conhecer antes disso, mas eu tenho falado sobre isso. Seu nome surgiu em cada palestra pelo mundo na pauta. Em outras palavras, meu ponto central era o casamento, é onde uma pessoa se sente uma super estrela como Michael Jackson.

MJ: Isso é bonito.

SB: Mas eu acredito muito em casamento. Então, quando o seu relacionamento com Lisa começou a ruir, foi muito difícil? Seu idealismo sobre a família, e tudo o que você acreditava em construir uma intimidade em família que sempre quis, especialmente porque você sabia...

MJ: Eu queria filhos e ela não.

SB: Ela já tinha os dela.

MJ: Sim, e ela me prometeu isso antes de casarmos, que a primeira coisa que faríamos era ter filhos. Então, eu fiquei com o coração partido e andava na época carregando bonecas e chorava, pelo tanto que eu os queria. Mas eu estava determinado em ter mais filhos.

Me desapontou que ela não tenha cumprido a promessa que fizera para mim, sabe? Depois que nos divorciamos, ela saía com a minha mãe o tempo inteiro. Eu tenho todas as cartas que dizem "Eu vou te dar nove filhos. Faço qualquer coisa que você quiser!" e é claro que a imprensa não sabe dessa história, e ela tentou por meses e meses, mas meu coração foi se endurecendo. Eu fechei a minha mente para toda essa situação.

SB: Então ela pensou que talvez vocês pudessem voltar?

MJ: Ahuh.

SB: Mas filhos era o maior problema?

MJ: Claro!

SB: Ela tinha os dela e pronto.

MJ: Ela tinha os dela e eu queria que todos nós sentíssemos que éramos uma grande família e ter mais. Só isso. Meu sonho é ter nove ou dez filhos, é o que eu quero.

SB: Você ainda é muito jovem. Você acha que isso irá acontecer?

MJ: Sim.

SB: Mas isso significa casar de novo.

MJ: Sim.

SB: Está feliz em fazer isso?

MJ: Uh huh... Ou adotar.

SB: É possível Michael, que você esteja atraindo o tipo errado de garota por ser uma celebridade?

MJ: É difícil. É por isso que é difícil, é difícil para mim. É difícil. Não é fácil para celebridades estarem casadas.

SB: Você acha que só poderia mesmo se casar com celebridades por que não precisariam tanto de você?

MJ: Isso ajuda, na minha opinião. E elas entendem o que você passa. Passaram o mesmo.

SB: Elas te ajudam pelos motivos certos, então?

MJ: Sim. elas não estão atrás do dinheiro que você ganhou ou... sabe? [cantando That´s what you are...] É isso o que você é... [ ele ganhou um Grammy por isso.]

SB: Certo, certo.